terça-feira, 23 de agosto de 2011

O Preconceito Linguístico (agora sem trema)

Estamos de volta, depois de muito tempo, para mais uma polêmica. Tema de hoje: Preconceito.

Primeiro vamos recorrer ao popularmente chamado “pai dos burros” (lembrem-se disso), o dicionário. “Preconceito (prefixo pré- e conceito) é um "juízo" preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude "discriminatória" perante pessoas”. Esta ação discriminatória que o dicionário fala, pode ser contra inúmeras coisas, mas as pessoas limitam-se apenas a citar, com o perdão da metáfora, o “pretinho-básico”: negros, homossexuais e outras etnias.

Mas recentemente descobri um preconceito que cresce de uma maneira assustadora. O preconceito lingüístico, a discriminação com quem comete erros gramaticais. Geralmente, este movimento é liderado por jornalistas, publicitários, redatores, advogados e intelectuais. Sem generalizar porque isso seria preconceito meu. Mas vamos aos fatos.

Ouvi estes dias, de uma grande amiga, a seguinte frase: “Escrever errado é o bafo colocado no papel”.

Bafo é o fedor que sai da boca das pessoas. Ele causa repúdio, nojo, náusea e faz com que as pessoas se afastem de você.

Então ver alguém escrevendo errado, causa nojo?

Por que uma pessoa não tem o mesmo nível de conhecimento da língua mãe ela deve ser alvo de inúmeros comentários e indiretas maldosas no facebook e twitter? Você saber mais do que ela te faz melhor? Devemos nos afastar porque um amigo escreve errado?

Isso é quase um Nazismo. Logo mais aparecerá uma seita, “discípulos de José de Alencar” . Alem das indiretas e comentários ácidos nas redes sociais, também praticariam reuniões, usando capuzes brancos, dicionários e queimariam semi-analfabetos em fogueiras. Seria uma festa.

Parece absurdo, mas muitas pessoas realmente sentem este ódio as orações mal construídas.

Minha mãe por exemplo. Ela não é extremista, é uma pessoa doce, amável, me criou com muito amor e carinho, mas quando escuta um gerúndio ela praticamente se transforma. Algo toma conta do seu estomago. Mamãe criou técnicas já para isso. Todo “nós vamos estar” que minha mãe escuta ela para, se cala, vai para o quarto, se tranca e fica lá por 30 min. As vezes escutamos alguns gritos de “FILHO DA PUTA”, mas deve ser ela espetando o dedo com uma agulha de tricô ou coisa assim. Te amo mamãe.

Mas não é por menos a atitude de minha progenitora. Ela participou dos campos de treinamento do nazismo lingüístico, onde pessoas passam 4 anos aprimorando as técnicas para detectar o menor erro gramatical, aprendem os melhores insultos e, principalmente, como excluir completamente do convívio social os pobres desconhecedores da Língua Portuguesa. Sim meus amigos, minha mãe fez LETRAS NA USP.

É fato que este local transforma as pessoas. Talvez eles sejam educados a base de tratamento de choque, tal como em “laranja mecânica”. Não sei. O fato é que a cada 10 alunos, 11 viram nazistas lingüísticos.


Não entendo este ódio. “Se escreve errado não pode ser meu amigo.”

Muitos dos meus melhores amigos cometem equívocos gramaticais. Logo, da próxima vez que receber um, irei responder:

“Prezado amigo,
Com muito apreço tenho sua amizade por mais de 15 anos. Sempre nos demos muito bem. Me lembro quando fomos viajar, quando você me ajudou nas situações difíceis e como você sempre esteve do meu lado. Você foi meu padrinho de casamento e o melhor padrinho que meu filho poderia ter. Infelizmente acabo de receber um e-mail seu com um “agente” para se referir a “nós”. Com isso gostaria aqui de terminar nossa amizade. Vá a merda seu burro ignorante e até logo. Sem mais.”

E ai eu pergunto minha gente: Por que este preconceito? As pessoas podem não saber escrever, mas são pessoas. Merecem ser criticadas?

Estou levantando esta bandeira porque eu, filho de uma “nazista uspiana”, sou sim um desprovido de conhecimentos gramaticais.

Sofro, tento aprender, mas é difícil. Peguei recuperação de português todos os anos, da primeira série ao terceiro colegial. Minha amiga que comentei, a da frase, a cinco anos tenta me ensinar que “Há cinco anos” o A é com H, e eu não aprendo. Viram? Errei. Droga.

Minha mulher até me presenteou com uma camiseta escrita “Herrar é Umano”. Gênio! Tenho orgulho de levantar a minha semi-analfabetisse, não como um defeito, mas como uma condição comum. É praticamente a minha camiseta “100% negro”.

NOTA IMPORTANTE. Não estou aqui defendendo o “escrever errado”, mas sim criticando o preconceito e exagerado das pessoas para quem comete estes erros. Os defensores, provavelmente os jornalistas, redatores, publicitários, advogados e intelectuais, Irão me rebater, dizendo “conhecimento da língua é Básico!” Ok, matemática é Básico, vamos ofender no Twitter todo mundo agora que não souber fazer a Fórmula de Báscara.

Chamar de Burro é uma ofensa e, com toda certeza, o nome popular do dicionário foi criado em cima deste preconceito. (falei para se lembrar)

Ao invés de criticar, corrijam sempre que possível. Se você for mais íntimo, pode dar até aquela zuada sim, mas entre amigos. Meu primo Guilherme é um mestre de zuadas lingüísticas. Agora críticas ferozes em redes sociais eu não concordo.

Pessoas que escrevem errado podem ser boas em outras coisas. Bons amigos, bom amantes, bons ouvintes e bons amigos. Tivemos até um presidente que, com toda certeza, não deve ser um exímio escritor.

Não deixem o preconceito lingüístico barrar você de conhecer as pessoas ou pior, ofender as pessoas. Lembre-se da frase que levo no peito: “Herrar é Umano”. E eu completo, “Preconceito com quem Herra é DesHumano”.

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