segunda-feira, 2 de abril de 2012

Diálogo

- Eu acho que estamos nos falando pouco.
- Oi?
- Você e eu, não estamos conversando mais.
- Desculpe, mas realmente não estou entendendo.
- Talvez seja esse o problema, a gente não se entende. Ficamos aqui, parados, um olhando para a cara do outro, como se não nos conhecêssemos.
- Mas minha senhora, de fato eu não a conheço, eu só sou o cobrador do ônibus.
- Como assim “Não me conhece”? Pego esse mesmo ônibus todos os dias nos últimos nove meses. Sempre no mesmo lugar, no mesmo horário, sempre carregando esta mesma bolsa azul e amarela. Não é possível que você não me conheça.
- Sim, me lembro da senhora. O que quis dizer é que nunca conversamos.
- É exatamente o que eu estava dizendo, nós não conversamos mais.
- Mas eu não lhe conheço!
- Mas como? Acabou de falar que me conhece, que se lembra da minha bolsa azul e amarela.
- Senhora, veja bem. Como eu disse, eu sou apenas o cobrador do ônibus. Sim, eu já a vi, conheço a senhora, conheço sua bolsa azul e amarela e lhe vejo todos os dias, mas nunca conversamos.
- Pois é. Triste isso não?
- Como assim triste?
- Nos vemos todos os dias e nunca trocamos uma palavra.
- Não sei, do jeito que a senhora fala, até soa um pouco triste mesmo.
- Pois é.
- Não sei o que lhe dizer. Peço desculpas.
- Não quero suas desculpas.
- Então o que a senhora quer?
- Quero que veja que estamos com um problema. Que não estamos nos comunicando como deveríamos.
- Ok, eu assumo, deveríamos conversar mais.
- Eu também acho.
- .....
- Não vai dizer nada?
- Minha senhora, não tenho nada a lhe dizer.
- Pergunte do meu dia, me elogie, comente sobre algo.
- Gostei da sua bolsa.
- Esta azul e amarela?
- É.
- É velha, você sabe disso.
- Sim, eu sei.
- Então por que não me disse isso antes?
- Verdade. Acho que precisamos nos falar mais.
- É verdade.

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